sábado, 17 de outubro de 2015
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
O que é ser 'gente normal'?
Tem dias que eu queria ser o que chamam de 'gente normal',
conseguir me contentar com pouco, e acalmar o desassossego constante que existe
no meu peito... Mas não sou equilibrada o bastante pra ficar no muro, e, quando
tento eu sempre caio, e caio com força, de cara no chão, perdendo um ou dois
dentes a cada pancada.
Eu olho pras pessoas e tenho a impressão de que todo mundo,
ou pelo menos a maioria esmagadora, quer viver da rotina, quer a calma de um
lar, um emprego, assistir televisão aos domingos e se satisfazer com a paz das
certezas. Desde cedo, já escolhem a profissão, tem sonhos, projetos e sabem
mais ou menos o que querem, ou pelo menos o que não querem da vida.
Já eu, até assusta pensar na confusão que sou... existe em mim
um vazio, um bicho, não sei especificar o que é, mas existe esse desassossego
que não me permite chegar a conclusão alguma, e que me faz vagar a procura
desse ‘algo’ que o preencha.
E aí encontro a problemática da minha vida: o que é capaz de
preencher o que a gente nem sabe o que é?
Talvez isso esteja confuso demais pra você, e se estiver
confuso, fique feliz, e até já pode parar a leitura por aqui, pois você é uma
pessoa normal. Mas, se as minhas palavras fizerem sentido, então, precisamos
descobrir quais são as perguntas que nortearão a nossa vida, para depois
encontrar as respostas e parar de tentar responder perguntas que ainda não
existem.
Na teoria é fácil, por isso eu ainda ando em círculos e
apenas observo esse vazio crescer irremediavelmente. Tem dias que penso que
gente como nós, amantes das artes, da música, das palavras, nascemos pra viver
sozinhos no mundo. Pois por mais que as pessoas tentem nos entender ou amar,
elas dificilmente estarão dispostas a acompanhar a loucura que somos, e precisamos
reconhecer que é preciso coragem, talvez coragem demais ou muito amor, pra que
pessoas normais, ao menos aceitem quem nós somos e quem nós nunca iremos ser.
Mas e se eu quiser tudo? Eu quero não ter que escolher entre
a certeza de assistir televisão aos domingos, ou a leveza de viajar pelo mundo
sem rumo. Eu quero as duas coisas! Quero sonhar, mas também quero ter chão,
quero cantar e sorrir, mas também quero a calma de um lar, eu quero ser livre
presa a um amor tranquilo, capaz de acalmar toda a confusão que sou e que me
ajude com punhados de paz a preencher meus vazios.
Sei que meus vazios só serão preenchidos por mim, mas
preciso de alguém normal pra me dar paz, chão. Eu olho para os lados e acho que
você responde até mesmo às perguntas que eu ainda não fiz, e eu quero poder ser
tudo o que sou. Na verdade, eu só preciso de uma mão pra ajudar a me equilibrar
sobre o muro entre o normal e eu, até que eu e o normal sejam a mesma pessoa,
até o que o muro não exista.
Débora Kelly
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